segunda-feira, março 29, 2010

Processo de Desmonte

Sempre que penso em apagar o blog fico com pena de alguns textos, então reduzi de quase 200 para 50 textos. Mais fácil ler assim essas coisas velhas...

sábado, setembro 22, 2007

Ariano Suassuna


Lotou bem mais que o esperado obrigando o orador a ficar de lado para as duas platéias. A hora anunciada era 19h30 mas começou lá pelas 20h10. A “aula-palestra-espetáculo” consistia de emissão de opinião, leituras, causos, piadas e muita descontração. Eu não concordo com muito do que ele diz mas ouvir a palavras de uma mente brilhante como a dele é uma experiência magnífica. Duas horas que valeram cada minuto.

Um dia de cão

Pela manhâ o trânsito parou na entrada do viaduto pelo qual meu ônibus passa. Desci para pegar outro e vi duas moças que pegam o ônibus que passa no viaduto paralelo, ou seja lá estava parado também. No meu viaduto foi uma acidente com um motoqueiro, no outro um corpo estava dependurado, enforcado, na árvore que fica no fim do viaduto. No dia seguinte arrancaram o galho, pobre árvore. O dia começava estranho.

Para completar o filho da telefonista, que havia começado a trabalhar conosco a poucos dias, estava fazendo um serviço no banco, ou seja, sacou dinheiro para a empresa e quando parou para ligar para o departamento financeiro levou um ou mais tiros. Ela ainda está no hospital. A mãe dele é uma pessoa muito legal, gente finíssima e algumas pessoas ficaram meio abaladas.

A vida humana vale cada vez menos.

segunda-feira, julho 30, 2007

Ingmar

Morreu hoje o cineasta Ingmar Bergman. Ele já não fazia filmes a muitos anos, se aposentara. Mas nem precisaria fazer nem metade do que fez. O primeiro Bergman que assisti foi Persona e eu adorei. Gostaria de escrever mais mas as pessoas a minha volta estão me atrapalhando.

domingo, julho 29, 2007

história de taxista

Essa é uma história de um monte que os taxistas nos contam nas viagens. Muitas podem não ser verdadeiras, mas essa pode ser real. O taxista já de uma certa idade contava a história de fulano-de-tal, passageiro de uma única viagem. Fulano-de-tal possui idade avançada e gosta de falar do passado e se diz um casanova. Conversa de "meninos" com suas considerações machistas a respeitos das mulheres da vida dele. Então no momento de dizer que apesar da idade ele ainda mantém sua virilidade (quando ouvi isto não existia viagra ainda) gabou-se ao taxista que ele conseguia, usando as palavras do próprio fulano-de-tal, ficar "de pau duro" até quando colocava a netinha bebê no colo.
Aqui não me importa se ele tinha sua ereção com a netinha ou se era só um expressão infeliz para atestar sua virilidade, mas com certeza não seria algo para dizer para quem quer que seja.
Não sei porque nunca esqueci essa história. Consigo até imaginar o indivíduo que diz algo assim e no fundo sei que há outros "sem noção" tão ignorantes que apesar de algumas vozes se erguerem para amenizar suas culpas e passá-las para o falho sistema de educação de um país terceiro mundista, são imbecis que não fariam a mínima falta nesse mundo.
parcialidade

Poucos dias atrás a seleção brasileira de futebol ganhou a copa américa em cima da favorita argentina. No mesmo instante a massa esqueceu o futebol medíocre apresentado pela seleção e comemoraram (não muito, eu não ouvi fogos por aqui). Esqueceram as críticas e análises e tudo o mais e se fixaram apenas no final cômodo e feliz.

Um outro exemplo do que eu quero tentar falar... quando um fumante morre de câncer do pulmão nunca lembra-se de que milhares de outros fumantes não morreram, ou se morreram, não foi por causa do cigarro.

Essa atitude de cada um, mas que é igual para todos, a massa inteira, é reconfortante. Pensar igual ao próximo, fazer parte de um todo confirma a nossa participação na mente coletiva e economiza os neurônios que queimariam ao questionar os axiomas do dia-adia.

Quem sabe essa atitude de parcialidade com a opinião da massa não esteja gravada no gene. Um primata bípede da áfrica milhões de anos atrás não preferiria migrar com o grupo pois todos concordariam inconscientemente que ir para o norte é o certo. A mesma coisa.

E com certeza hoje ou ontem, quem pensasse diferente disso seria marginalizado e deixado pra trás para os tigres-dente-de-sabre.

Uhm... acho que já posso ouvir o tigre se aproximando.

sexta-feira, junho 29, 2007

A Ode à Violência.


Dissertação do papa sobre o crime seguida de orgia (1993)

Titãs
Titanomaquia
1993

O assassinato é uma paixão como o jogo, o vinho, os rapazes e as mulheres, e jamais corrigida se a ela nos acostumar-mos. O crime é venerado e posto em uso por toda a terra, de um pólo a outro se imolam vidas humanas. Quase todos os selvagens da América matam os velhos se os encontram doentes. É uma obra de caridade por parte dos filhos. Em Madagascar, todas as crianças nascidas às terças, quintas e sextas feiras são abandonadas aos animais ferozes. Constantino, imperador tão severo e querido dos cristãos, assassinou o cunhado, os sobrinhos, a mulher e o filho. Nos mares do Sul, existe uma ilha em que as mulheres são mortas como criaturas inúteis ao mundo quando ultrapassam a idade de procriar. Em Capo Di Monte, se uma mulher dá à luz a duas crianças gêmeas o marido logo esmaga uma delas. Quando Gengis Khan se apoderou da China mandou degolar à sua frente dois milhões de crianças. Os Quóias furam as costas das vítimas a pancadas de azagaia, em seguida cortam o corpo em quartos e obrigam a mulher do morto a comê-lo. Os Hurões penduram um cadáver por cima do paciente, de maneira a que possa receber na cara toda a imundice que escorre do corpo morto, atormentando assim o desgraçado até que ele expire. Os Irlandeses esmagavam as vítimas. Os Noruegueses perfuravam-lhes o crânio. Os Celtas enfiavam-lhes um sabre no esterno. Apuleio fala do tormento de uma mulher cujo pormenor é bem agradável, coseram-na com a cabeça de fora, dentro da barriga de um burro ao qual tinham sido arrancadas as estranhas. Deste modo foi exposta aos animais ferozes.

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Vc viu a música acima? Já ouviu... talvez não.
Mas não precisa, só leia.


Comecei a escrever esse post mais de um mês atrás e não tive cabeça pra continuar, então vou incluir novos acontecimentos dignos da mídia:
Um preso encomendou a morte da ex-amante a um criminoso que utilizaria o assassinato como batismo dentro da organização (PCC).
Cinco jovens espancaram e assaltaram uma empregada doméstica porque achavam que ela era uma prostituta.

O preso deve ter comemorado a vingança contra a ex-amante lá dentro da penintenciária, pode até ter tomado um porre, enquanto seu camarada pagava uma rodada de cerveja para os companheiros do bar em homenagem ao seu batismo de fogo.

Os jovens riram bastante enquanto batiam na prostituta-empregada-doméstica. Se não fossem presos como foram estariam num bar trocando detalhes do espancamento ou quem sabe programando repetir a dose.

Apesar de não achar que jogos violentos influam em crimes cometidos por seus usuários vai outro acontecimento não digno de mídia: O meu colega de trabalho comprou um jogo para playstation 2 e recebeu uma mensagem de outro colega que comprou o mesmo jogo e que dizia: – Como é bom matar!

Lembro que no primário eu bati num garoto bem folgado que tinha lá e os outros meninos da classe vieram me dar o parabéns. Também houve um acontecimento no colégio em que um colega tropeça em outro e na saída este último saca sua faca e quase parte pra cima do primeiro pois não gostou. Meia escola estava lá pra assistir o drama escolar.

O caso dos jovens que espancam a empregada-doméstica foi comentado no serviço menos de dois minutos, a final do Aprendiz 4 mais de quinze. O preso que encomenda a morte não foi comentado.

Estamos mais que acostumados ao assassinato e a violência, principalmente se ela não estiver muito próxima de nós, se estiver na TV, no jornal ou no vizinho. Mas se uma criança pequena ou alguma pessoa da classe média morre vítima da violência podemos fazer uma passeata e esquecer aquilo até um próximo acontecimento de igual peso.

O ser humano curte a violência, sempre curtiu. E não há indício de que isso possa mudar tão cedo, então gritemos em coro:

Como é bom matar!

Finais

Assisti dois filmes esses dias, Pecados Íntimos e Mais estranho que ficção. O primeiro é muito interessante sem ser um ótimo filme. O segundo é um ótimo filme. Mas ambos sofrem de finais politicamente corretos para os medíocres espectadores conservadores que os assistem.

Vou falar sobre os finais então se não assistiu não leia.

Pecados íntimos, desculpe o trocadilho, peca por ser idiota ao fazer a mãe e a criança se encontrarem com o tarado arrependido e pior ainda, o pai que pára pra ver os skatistas e resolve participar também, fazendo com que a mulher com quem gostaria de fugir ficasse esperando. O desencontro e os acontecimentos fazem com que ambos voltem aos seus respectivos cônjuges e que assim, o american way of life sai vitorioso contra as intempéries das paixões proibidas. Final conservador demais para um filme que prometia.

Mais estranho que ficção... quem dera fosse inglês esse filme. É um ótimo filme, uma premissa original e até que bem dirigido. Mas a mudança no final acaba com o filme. Faltou pouco pra ele ser bom mesmo.

terça-feira, junho 19, 2007

Formigas


Duas pessoas em sentidos opostos na escadaria do metrô se esbarram.

Menina de cabelos vermelhos (MV):- Desculpe.

Menino Bonitinho (MB):- Desculpe.

A menina segue uns poucos passos em seu caminho, mas acaba voltando rapidamente:

MV: – Podemos comecar de novo?
Sei que não nos conhecemos...
mas eu não quero ser uma formiga.

Passamos pela vida
esbarrando uns nos outros...
sempre no piloto automático,
como formigas...
não sendo solicitados a fazer
nada de verdadeiramente humano.

Pare. Siga. Ande aqui. Dirija ali.
Acões voltadas
apenas à sobrevivência.

Toda comunicação servindo para
manter ativa a colônia de formigas...
de um modo eficiente e civilizado.

"O seu troco." "Papel ou plástico?"
"Crédito ou débito?"
"Aceita ketchup?"

Não quero um canudo. Quero
momentos humanos verdadeiros.

Quero ver você.
Quero que você me veja.
Não quero abrir mão disso.
Não quero ser uma formiga, entende?

MB: Sim, não...
Eu também não quero ser uma formiga.
Obrigado pela sacudida.
Tenho andado feito um zumbi...
no piloto automático. Não me sinto
como uma formiga, mas pareço uma.

MV: – D.H. Lawrence teve a idéia
de duas pessoas se encontrarem...
e, ao invés de apenas passarem...
aceitarem "o confronto entre
suas almas" .

É como libertar os deuses corajosos
e inconseqüentes que nos habitam.


Esse diálogo é do filme Walking Life, que lembra, só de leve, MINDWALK (que com certeza é melhor) mas vale assistir e claro, tem que prestar atenção.

Mas é sobre o diálogo aí acima do qual gostaria de falar...
Quantas pessoas interessantes estão a passar a sua frente e não nos percebemos pois somos todos formigas. Esses deuses corajosos e inconseqüentes teriam que estar livres dentro de nós.

Mas somos medrosos e tímidos, egoístas também, quem sabe?

Uma amiga me disse uma vez que as pessoas não conversam mais nos bares, são apenas rodinhas que só se desfazem quando rola uma paquera ou algo do gênero, ninguém puxa conversa. Claro, ela estava generalizando mas é mais ou menos isso.

Cada vez mais, protegidos pelos fones do mp3player não damos atenção ao mundo, ou andamos sozinhos no carro enquanto tantas pessoas irão trabalhar em algum lugar que faz parte de nosso caminho. No máximo comprimentamos os vizinhos por educação, geralmente no elevador ou no portão de casa antes de ir trabalhar. Compramos casas em condomínios onde pessoas não andam a pé. Falamos com os amigos pela internet abreviando a língua e as emoções. Mandamos mensagens pelo celular.


É... somos formigas.


P.S. Me lembra também um post meu antigo chamado piloto automático

domingo, junho 10, 2007

Uma história do meretrício

A história de S. não é muito diferente de muitas outras mas com certeza não é igual as retratadas nas novelas da Globo. Quase sempre as prostitutas na mídia são mulheres lindas e cobrariam valores de três dígitos por um programa. Na vida real há aquelas como da novela, também aquelas universitárias, siliconadas e algumas são até mais TOP, ganham mais que muito executivo, mas são uma porcentagem mínima. Algumas são atrizes em novelas da própria Globo.
O que ninguém gosta de mostrar é que com certeza a grande maioria das "garotas de programa" não pode sair em capa de revista. Visite um centro decadente de uma cidade qualquer, até as pequenas e lá estão as prostitutas dos pobres. Fazendo ponto em botecos, praças e bordéis baratos (onde o cliente ganha um copo de cerveja quente de graça pra entrar), fazendo anúncios em jornaizinhos ou colando adesivos em telefones públicos.

A garota de programa S. (é mais leve usar garota de programa que prostituta, p, r e t são letras muito fortes para estarem juntas assim) não é uma garota, já entrou nos "enta" a algum tempo e seu corpo não tem nada haver com a Camila Pitanga. Não tem muita educação nem bom gosto. Deixou a filha com uma irmã muitos anos atrás e veio do interior convidada por uma outra irmã que fazia programas também. Trabalhou em alguns privês nos bairros quase-chiques e não ganhou dinheiro, ganhou um filho. Pra ajudar nas despesas aluga um quarto na casa que a filha comprou pra ela e consegue ganhar pro sustento do vício que não passa de um pacote de cigarro. Seus clientes são bêbados, velhos, office-boys e pessoas que andam a toa. Ela não se dá ao luxo de fugir de cliente e pode ganhar um bom dinheiro num dia e nada no outro. Não gosta do que faz mas não desgosta e prefere essa vida do que ser diarista.

Essa é a vida dela e uma parcela da população que assiste a novela acha que toda prostituta é daquele jeito que aparece ali.